8 de mai. de 2010

A CUIDADORA - Uma homenagem às mães invisíveis

Entrou no Centro de Saúde como qualquer um. No colo, o bebê. Desproporcionalmente grande. Olhos fixos nela, boca aberta, nenhum dente, nem um grunhido. Bem agasalhado, vestia luvas cobrindo talvez deformações.
A mulher pediu para descansar e acomodou-se sem conforto no banco de madeira.
A funcionária aproximou-se para dar as gotinhas, mas a criança não deglutia. A mãe acarinhava aquela cabeça enorme e pedia que engolisse. Um molusco ganhando colo? Um saco de batatas? Muitos olhos eram compelidos naquela direção. Mas os que viam a cena, que olhar tinham?
A mãe demonstrava apenas cansaço. O direito de sentir? Ser cuidada? Jovem, franzina e sorridente. Vida e morte preencheram a sala de espera. O amor incondicional.
Levantou-se poucos minutos depois de certificar-se que a vacina fora deglutida. Desceu a escadaria de poucos degraus e seguiu com seu fardo.

Marilice Costi - Campanha de vacinação - 1988.

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